Boletín Comisión de Geoespeleología FEDERACIÓN ESPELEOLÓGICA DE AMÉRICA LATINA Y DEL CARIBE, A.C. (FEALC)
COMISIÓN DE GEOSPELEOLOGÍA No. 49, Julio 2004 Coordinador: Prof. Dr. Franco Urbani Sociedad Venezolana de Espeleología. Apartado 47.334, Caracas 1041A, Venezuela. Telefax: (58)-212-272-0724, Correo-e: urbani@cantv.net Boletín Informativo de la Comisión
de Geoespeleología, Federación Espeleológica
de América Latina y el Caribe (FEALC). Geospeleology Commission Newsletter,
Speleological Federation of Latin America and the Caribbean
FEALC).
As dolinas são
o primeiro indíci o de que há algo estranho. Dolinas são depressões
na superfície
da terra, formadas pelo desabamento
do teto de alguma
suposta caverna. Quando elas aparecem, são um forte
sinal de que há cavernas pelas redondezas.
Mas num mundo
de igarapés, cipós e árvores gigantescas, topar
com cavidades subterrâneas
é a última coisa que se espera. Mas
a suspeita se confirma. Quando
a selva se abre, surge um grande paredão
rochoso que guarda a entrada de pequenas
grutas. Um lago de águas
paradas coberto de vitórias-régias serve de antes-sala. À frente,
a Caverna Planaltina, uma
das maiores cavernas de arenito
do Brasil. Aqui mesmo,
no coração da Amazônia. Como é que ninguém
até agora havia notado?
O espeleólogo paraense Roberto Vizeu
havia. Vizeu foi um dos primeiros
a explorar e mapear essas
cavernas, trabalho que começou
em 1987 e só
terminou recentemente. A conclusão a que chegou é
surpreendente:
"O oeste do Pará tem a maior concentração
de cavernas de arenito do Brasil: mais
de 100!" Elas se espalham
pelos municípios de Altamira (aliás,
o maior do mundo) e de Brasil Novo. Dessa
centena, apenas quatro estão
abertas à visitação.
Mas exigem longas horas sacolejando
na poeira da Rodovia
Transamazônica e enfrentando as trilhas
úmidas e os mosquitos da maior
floresta tropical do mundo. Os
escorpiões e aranhas que decoram a entrada da
Caverna Planaltina mostram
que realmente estamos numa floresta
tropical. E é preciso tomar cuidado redobrado.
O primeiro salão tem cerca de 30 metros de largura e já
anuncia o calor abafado que sopra
dentro da caverna - atenuado apenas pelo pequeno
córrego Jeju. À medida que se penetra
nesse estranho
mundo, uma névoa
densa começa a se formar, acompanhada
de um ar intoxicado
de amônia que invade as narinas e irrita os olhos. Obra da decomposição das
fezes dos morcegos, chamadas de guano, que cobrem o
solo da caverna. Mas a imagem supera
tudo: as colunas branquíssimas se sustentam sobre
uma fina lâmina de água no chão, que dá reflexo especial à névoa que paira no ar. Vizeu lembra que, há cerca de dois anos, viu rastros de jacaré no leito do
córrego. Agora,
mostra o que acredita ser a marca do rabo e das patas. Na Amazônia, tudo
é possível. Até jacarés habitarem
cavernas. A Caverna Planaltina tem 1500 metros
de extensão. O que não passa de uma gruta quando comparamos com as cavernas
de calcário, que no Brasil chegam
a quase 100 quilômetros.
Mas o fato de ser de arenito,
e tão grande, torna-a uma
raridade. Esse tipo de rocha esfarela com facilidade, e por isso não possibilita
a formação de extensas cavidades subterrâneas.
As cavernas, em geral,
se formam quando a água da chuva, ao cair num
solo orgânico e em
decomposição, torna-se ácida. A acidez ataca a rocha, dissolvendo a estrutura que a mantém firme. No
caso do arenito, sobram
grãos de areia que vão sendo gradativamente erodidos e levados pela água. No
fim, não é de se espantar que haja tanta areia nas cavernas da Amazônia, já que, milhões de anos atrás, a
grande floresta foi um
vasto fundo de mar.
As
cavernas de arenito têm
uma beleza
diferente das de calcário. Aqui,
por exemplo, não
há espeleotemas - formações como
os estalactites e os estalagmites
que tanto são associadas
à idéia popular de caverna. No processo
de erosão química do arenito,
não sobra mineral que possa
ser cristalizado. É o que acontece no caso das cavernas de calcário,
onde a água
que dissolve a rocha leva junto uma dose de calcita, um mineral que pode cristalizar e formar uma infinidade de objetos decorativos
subterrâneos. Um pouco
menor que a Planaltina, mas igualmente
impressionate, é a Caverna do Limoeiro.
Seus 1 200 metros de salões
labirínticos são
recortados por dois braços
de rios. No chão, uma fina areia amarelada contracena com os fungos e líquens que recobrem as paredes de arenito.
E a caverna também reserva surpresas.
Num estreito
conduto que liga dois salões, dezenas de morcegos decoram o teto da caverna. É um verdadeiro berçário, repleto de
fêmeas carregando seus filhotes pendurados
na barriga. Todas as cavernas amazônicas
são pródigas em
morcegos. "É provável que isso se deva ao
fato das cavernas estarem
muito espalhadas pela floresta,
distantes umas das outras.
Por isso os morcegos
se concentram numa só."
Nas outras duas cavernas possíveis de visitar na região, a Amazônia
continua surpreendendo. A Caverna Leonardo da Vinci é formada por
um tipo de rocha sedimentar denominada folhelho, ainda mais rara
na formação de cavidades. Com salões baixos e escuros, ela tem uma
grande quantidade de guano dos morcegos, que, além de atrair baratas
e grilos, provocou a formação de pequenas e intrigantes estalactites
vermelhas de fosfato, numa complicada reação química com a rocha.
Já na Caverna Pedra da Cachoeira, a surpresa está do lado de fora:
a poucos passos de um pórtico de entrada de 20 metros de altura,
uma bela cachoeira. Perfeita para aliviar o cansaço das trilhas
e da descoberta de que, aqui, é possível encontrar lugares ainda
mais escuros do que a floresta impenetrável. Na Amazônia, tudo é
possível
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